Sites de relacionamento são excelentes ferramentas para saber o
paradeiro de pessoas que um dia fizeram parte de nossas vidas, mas a mesma se
encarregou de separar.
Graças a esses sites reencontrei amigos de adolescência, colegas
de escola e de trabalho. Alguns reencontros passaram do virtual para o real.
Outros continuaram virtuais pela distância ou outro motivo. Mas valeram a pena
mesmo assim.
Um belo dia eu estava de bobeira em casa e o diabinho do ócio
sussurrou ao meu ouvido uma idéia: Por que não procurar aquela sua ex-amiga de
adolescência que se tornou sua inimiga?
E não é que eu a encontrei no Facebook? Numa única foto
constatei que ela está gorda, velha e com a cara igual à da mãe dela… (risadas satânicas)
Bom, provavelmente ela acharia a mesma coisa de mim se me visse
hoje.
Conheci-a quando eu tinha uns catorze anos. Estudávamos juntas
na Cultura Inglesa.
A família de O. (prefiro não revelar o nome) era meio esquisita.
Na sua casa não tinha televisão. Não porque não tivessem condições, mas os pais
achavam que a televisão alienava
e coisas do gênero. Entretanto O. vivia enfiada na casa das amigas (na minha
inclusive) para assistir a todo lixo televisivo alienante a que não tinha
direito em sua própria casa.
O pai era jornalista, a mãe parecia uma agente carcerária. O.
era filha única e morria de medo da mãe, apesar de não dar o braço a torcer.
A família gostava de passar uma imagem de intelectuais que não davam
valor a bens de consumo. Meio fábula da raposa e as uvas.
Ela tocava piano. Eu tocava violão. Tanto eu quanto ela
estudávamos em colégios de freira, diferentes um do outro.
A amizade começou com uma disputa saudável na Cultura Inglesa.
Devo dizer em favor de O. que ela me ajudou a me interessar de
verdade pela lingua inglesa, além dos Beatles.
Ela era CDF, eu não queria nem saber. E mesmo assim minhas notas
eram sempre meio ponto acima das dela. Isso a deixava irada! rsrs
A gente ia ao cinema, à praia, conversávamos bastante. Como todo
adolescente eu era muito insegura, acho até que mais insegura do que a média.
Me achava feia e gorda. Achava que nunca teria um namorado e todas aquelas
coisas que a gente acha quando é adolescente.
No início eu não percebia que sempre que tinha oportunidade, O.
fazia um comentário depreciativo a meu respeito. Alguns muito en passant, outros mais
contundentes.
Não percebia a maldade das coisas que ela falava, pois além de
ser feia e gorda eu também era ingênua de doer! E como qualquer adolescente,
dava muita importância a tudo que meus amigos falavam. Então se minha grande
amiga dizia que era assim, é porque ela tinha razão! Eu realmente era feia,
gorda, inexpressiva e medíocre.
Foram anos achando que ela estava certa e eu realmente era um
cú. Ela fazia o estilo morde-assopra. Por isso minha ficha custou a cair. Era
ardilosa ao ponto de me desmerecer na frente dos meus outros amigos, como na
vez em que ela falou que eu não tocava bem violão. Quem tocava bem era Marcia, pois tinha o toque mais suave. Marcia era
minha amiga e também estudava violão. E O., sempre que podia a enaltecia para
me diminuir. Só que na época, com a auto-estima no pé, eu não percebia o jogo
dela.
Aos poucos a amizade foi murchando e as patadas aumentando. Ela
já não se dava ao trabalho de ser sutil, dizia as coisas na lata mesmo. Quando
arrumou um namorado começou a me ignorar de todo, afinal agora ela era
importante por ter um namorado e eu não.
Quando meus pais se separaram para ela foi a glória! O. saiu
espalhando para todo mundo as confidências que eu lhe fazia por considera-la
grande amiga. Distorcia informações, inventava outras.
Foi aí que eu virei jogo. Soube das fofocas que ela
fazia através de amigas dela que ficaram indignadas e vieram me contar.
Liguei para a casa dela e descasquei. Disse em poucas palavras
para ela não me procurar mais. E ela não procurou.
Alguns amigos para me vingar fizeram uma espécie de bullying com ela. rsrs Nada muito grave.
Inscreviam o nome dela para receber os mais diferentes produtos. Cintas
emagrecedoras, livros de auto-ajuda, cursos diversos. Também escreviam em seu
nome para revistas ou pessoas que “procuravam um relacionamento sério”. rsrs Isso foi na era pré-internet. Se fosse hoje o
estrago seria bem maior!
Esse post foi uma catarse. Botei para fora sentimentos há muitos
enterrados em mim. Revivi emoções há muito esquecidas.
A vida acaba nos ensinando que as pessoas passam, e os verdadeiros
amigos ficam.
2 comentários:
Uma história que é lição.
Para gente aprender a redimensioar as coisas e as pessoas.
Dar o real valor a tudo, inclusive, e principalmente a nós mesmos..
Na verdade, devemos agradecer às Os. das nossas vidas, que nos ensinam a valorizar e preservar as verdadeiras amizades, a estar alertas ao menor sinal do monstro da inveja profissional e a eliminar essas ervas daninhas do nosso jardim antes que o estrago seja grande demais para ser sanado.
Estas historinhas de terror revelam muito sobre as bruxas, mas ainda mais sobre as inocentes princesinhas, que devem mudar de profissão - boazinha é a pior delas - o mais rapidamente possível. E desenvolver um faro para detectar futuras bruxas disfarçadas de fadas.
Obrigada, bruxas. E vade retro.
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