domingo, 30 de dezembro de 2012

Inimiga íntima


Sites de relacionamento são excelentes ferramentas para saber o paradeiro de pessoas que um dia fizeram parte de nossas vidas, mas a mesma se encarregou de separar.
Graças a esses sites reencontrei amigos de adolescência, colegas de escola e de trabalho. Alguns reencontros passaram do virtual para o real. Outros continuaram virtuais pela distância ou outro motivo. Mas valeram a pena mesmo assim.
Um belo dia eu estava de bobeira em casa e o diabinho do ócio sussurrou ao meu ouvido uma idéia: Por que não procurar aquela sua ex-amiga de adolescência que se tornou sua inimiga?
E não é que eu a encontrei no Facebook? Numa única foto constatei que ela está gorda, velha e com a cara igual à da mãe dela… (risadas satânicas)
Bom, provavelmente ela acharia a mesma coisa de mim se me visse hoje.
Conheci-a quando eu tinha uns catorze anos. Estudávamos juntas na Cultura Inglesa.
A família de O. (prefiro não revelar o nome) era meio esquisita. Na sua casa não tinha televisão. Não porque não tivessem condições, mas os pais achavam que a televisão alienava e coisas do gênero. Entretanto O. vivia enfiada na casa das amigas (na minha inclusive) para assistir a todo lixo televisivo alienante a que não tinha direito em sua própria casa.
O pai era jornalista, a mãe parecia uma agente carcerária. O. era filha única e morria de medo da mãe, apesar de não dar o braço a torcer.  A família gostava de passar uma imagem de intelectuais que não davam valor a bens de consumo. Meio fábula da raposa e as uvas.
Ela tocava piano. Eu tocava violão. Tanto eu quanto ela estudávamos em colégios de freira, diferentes um do outro.
A amizade começou com uma disputa saudável na Cultura Inglesa. Devo dizer em favor de O. que ela me ajudou a me interessar de verdade pela lingua inglesa, além dos Beatles.
Ela era CDF, eu não queria nem saber. E mesmo assim minhas notas eram sempre meio ponto acima das dela. Isso a deixava irada! rsrs
A gente ia ao cinema, à praia, conversávamos bastante. Como todo adolescente eu era muito insegura, acho até que mais insegura do que a média. Me achava feia e gorda. Achava que nunca teria um namorado e todas aquelas coisas que a gente acha quando é adolescente.
No início eu não percebia que sempre que tinha oportunidade, O. fazia um comentário depreciativo a meu respeito. Alguns muito en passant, outros mais contundentes.
Não percebia a maldade das coisas que ela falava, pois além de ser feia e gorda eu também era ingênua de doer! E como qualquer adolescente, dava muita importância a tudo que meus amigos falavam. Então se minha grande amiga dizia que era assim, é porque ela tinha razão! Eu realmente era feia, gorda, inexpressiva e medíocre.
O que eu custei algum tempo para perceber é que O. tinha inveja de mim. Inveja por eu tirar nota maior do que a dela mesmo sem estudar. Inveja porque minha família tinha um pouco mais de posses do que a dela e não posava de intelectual, e graças a isso eu podia comprar os discos de rock, pop e trilhas sonoras de novela que eu queria. Na casa dela só se podia escutar música clássica. Outro tipo de musica só quando a mãe dela não estava.  Inveja do fato de eu ter liberdade de pedir dinheiro para lanchar no Gordon (que saudades do Gordon!), e o máximo que eu ouviria era “NÃO”, sem ser obrigada a ouvir sermão da carcereira-mãe sobre a alienação provocada pela sociedade de consumo.
Foram anos achando que ela estava certa e eu realmente era um cú. Ela fazia o estilo morde-assopra. Por isso minha ficha custou a cair. Era ardilosa ao ponto de me desmerecer na frente dos meus outros amigos, como na vez em que ela falou que eu não tocava bem violão. Quem tocava bem era Marcia,  pois tinha o toque mais suave. Marcia era minha amiga e também estudava violão. E O., sempre que podia a enaltecia para me diminuir. Só que na época, com a auto-estima no pé, eu não percebia o jogo dela.
Aos poucos a amizade foi murchando e as patadas aumentando. Ela já não se dava ao trabalho de ser sutil, dizia as coisas na lata mesmo. Quando arrumou um namorado começou a me ignorar de todo, afinal agora ela era importante por ter um namorado e eu não.
Quando meus pais se separaram para ela foi a glória! O. saiu espalhando para todo mundo as confidências que eu lhe fazia por considera-la grande amiga. Distorcia informações, inventava outras.
Foi aí que eu virei  jogo. Soube das fofocas que ela fazia através de amigas dela que ficaram indignadas e vieram me contar.
Liguei para a casa dela e descasquei. Disse em poucas palavras para ela não me procurar mais. E ela não procurou.
Alguns amigos para me vingar fizeram uma espécie de bullying com ela. rsrs Nada muito grave. Inscreviam o nome dela para receber os mais diferentes produtos. Cintas emagrecedoras, livros de auto-ajuda, cursos diversos. Também escreviam em seu nome para revistas ou pessoas que “procuravam um relacionamento sério”. rsrs  Isso foi na era pré-internet. Se fosse hoje o estrago seria bem  maior!
Fiquei muito tempo sem ter notícias dela. Há alguns anos eu soube através de conhecidos comuns que ela se casou, teve muitos filhos, se separou e voltou a morar com a mãe. Não sei se hoje elas possuem televisão, nem quero saber.
Esse post foi uma catarse. Botei para fora sentimentos há muitos enterrados em mim. Revivi emoções há muito esquecidas.
A vida acaba nos ensinando que as pessoas passam, e os verdadeiros amigos ficam.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Da série: Eu confesso

Meu primeiro sonho foi ser escritora e morar em Londres. Sempre gostei de escrever. Hoje escrevo um blog. Mas há mais de seis anos que eu não vou a Londres. Sinto falta de lá. Em vidas passadas eu devo ter vivido lá, como nobre. Se fosse uma pobretona eu acho que não me identificaria tanto com aquela terra.

Aos quinze anos comecei a aprender violão. Eu e minha amiga Marcia. Tive aulas durante uns dois anos. Pensamos em formar uma banda, compusemos algumas músicas e ficávamos nos achando! Mas não vingou.

 Pensei em seguir carreira de violonista. Cheguei a começar a me preparar para prestar exame no Conservatório. Além da teoria tinha que executar um prelúdio de Villa Lobos. Dos seis prelúdios, escolhi o número dois por ser o mais palatável. Sinceramente? Acho Villa Lobos um chato de galochas! Suas composições são chatas, desarmônicas e propositalmente complicadas! Talvez a única que se salve é o Trenzinho Caipira e olhe lá! Não entendo essa veneração toda com ele! #Prontofalei!

Mas minha carreira de musicista durou pouco. Nunca fui boa em ler partitura, e o tal prelúdio era bem complicado. Nem cheguei a prestar os exames.  Nunca toquei tão bem quanto a Marcia. Meu ouvido musical também nunca foi tão bom quanto o dela. Confesso que tinha inveja. #Prontofalei!

Confesso que ouvi pessoas falando que ela tocava melhor do que eu. Na época isso me magoou muito. Confesso que também ouvi pessoas comentando que eu não tocava muito bem, mesmo sem me comparar com ninguém. E isso me deixou chateada.

Mas como eu tenho senso crítico, no fundo eu também achava que não tocava tão bem assim. E a vida seguiu.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Dezembros


Dezembro é mês de Natal, de férias escolares e de muitas lembranças.
Mês de calor infernal, de trânsito caótico, mas com uma brisa festiva, com cheiro de liberdade, de coisa nova.
Mês em que as pessoas estão mais ansiosas, mas também mais receptivas a compartilhar as esperanças do ano que está por vir. Décimo terceiro no bolso, lojas decoradas festivamente para o Natal e uma sensação boa de que todo mundo está na mesma vibe.
Lembro sempre com carinho dos meus Dezembros de estudante. Final de ano, dever cumprido, passar “raspando” depois de prova final. E depois…. férias, liberdade e muita praia regada a mate de barril e biscoito Globo!
Nos amigos, a mesma sensação de alegria, de poder contar com todos aqueles dias de sol para curtir despreocupados, e para completar ainda tinha o Natal e o Reveillon. Quanta festa! Quantas coisas a comemorar!
Já mais velha, mas ainda estudante, muita curtição nos barzinhos da vida, nas discotecas (pronto, entreguei a idade!), e muito bronzeado na pele. Muito nascer do sol nas pedras do Arpoador.
Sou carioca, por isso Dezembro para mim terá sempre o cheiro da brisa do mar, a sensação da brisa morna no rosto, o barulho das ondas.
Mesmo depois de começar a trabalhar, sem Dezembro, sem Natal e sem Ano Novo, a sensação permaneceu.
Ainda bem, pois essa sensação me ajudou a enfrentar os Dezembros dificeis que eu já passei. Sempre que eu me sentia triste, preocupada, revoltada, angustiada, procurava refúgio naqueles Dezembros felizes.
Isso me consolava e me dava a certeza de que outros viriam. A brisa do mar estaria lá, as pedras do Arpoador me esperariam no mesmo lugar, e a alegria e sensação de liberdade dos estudantes de agora me contagiariam e me fariam feliz.
Muitos dos que fizeram parte dos Dezembros felizes não estão mais aqui. Já não vou mais à praia, tenho outras obrigações.  Já não estudo. Agora mato um leão por dia.
Mas é Dezembro. E apesar de nostálgica, eu estou feliz!